Tuesday, January 15, 2008

Relembrar o esquecido


Esquecemo-nos das coisas… A nossa mente prega-nos partidas. Somos seres em constante mudança. Num dia choramos, no outro juramos nunca mais fazê-lo. Beijamos alguém e de repente cerramos nossos lábios para sempre. Esquecemo-nos do valor das coisas, dos sentimentos, daquilo que realmente importa. Esquecemo-nos de como se escreve, como se chora, como se ri, como se fala. Somos prematuros. Somos burros e somos sensíveis. Um pé passa por cima de nós e esmaga-nos! Ninguém consegue fazer com que os entendamos. Esquecemo-nos de quem somos… esquecemo-nos das noites frias de Janeiro salgadas pelas lágrimas do choro; da falta que sentimos daquele abraço, daqueles carinhos; das desilusões e da falta de esperança; dos momentos de lucidez; das saudades; dos sorrisos que pouco a pouco nos foram devolvendo à vida; das mãos que se uniram para nos erguer de novo para a existência; das noites passadas na rua dos maltratados; das aventuras; das desventuras; das alegrias; das tristezas; de momentos e pessoas únicas que fizeram com que tanta emoção valesse a pena ser relembrada. Um ano passou e a ferida sarou, a mágoa passou. E tudo aquilo que era não mudou, apenas seguiu um rumo diferente. Porque eu não me esqueço de tudo, apenas me esqueço do nada que outrora me povoava. A rua dos maltratados já não é a mesma, as noites passadas ao relento já não são diferentes, tudo seguiu um rumo diferente, mas há coisas e pessoas que nunca mudam e que embora sigam rumos diferentes continuam a deslumbrar-nos. Passado um ano continuo a escrever as minhas melancolias e o velho continua galante e fascinante a recitar Bocage, mas já não está à espera do ópio. As coisas esquecem-se, mas de um momento para o outro somos invadidos por flashbacks que nos devolvem a essência outrora perdida no dilúvio que é o nosso pensamento.

Impossível esquecer o velho galante, o Sr. Gusto que conheci na rua dos Maltratados.