Monday, October 22, 2007

Music is my hot sex



Musica... Uma mistura de sons e sentimentos. Uma voz que nos embala ou nos desperta, que nos apazigua ou que nos enerva. Uma estranha forma de vida. Algo que é apenas por si mesmo. Uma forma de subsistência. Uma forma de amar, odiar, chorar, sorrir. Uma parte de nós. Muitas vezes associamos uma música a vários momentos da nossa vida. Eu ouço sempre uma música dentro de mim. A cada minuto, a cada segundo ecoa um som diferente na minha mente. A minha banda sonora acompanha-me permanentemente. Sinto-me como uma jukebox que vai tocando a meu próprio pedido. Sou o meu próprio dj, o meu próprio maestro. O meu inconsciente faz-me percorrer o mundo musical desde o mais suave acorde de guitarra ou de violoncelo até aos beats mais hards. Todos os sons são música para os meus ouvidos. Basta sabê-los ouvir e interpretar o seu significado. Ler nas entrelinhas duma música, decifrar o seu código. Saber o que cada som significa para nós. Deixar que o sentimento transponha qualquer barreira. Mais do que ouvir, sentir, porque a música não é mais do que uma confissão a nós mesmos, uma amostra do nosso estrado de espírito. Uma forma de expressão, uma brisa de ar fresco que transmite vida, morte, horror, alegria. Uma substância invisível que podemos moldar como nos apetecer. A cada inspiração ouço uma nota musical. Fecho os olhos e observo desertos infindáveis, paisagens desoladoras, climas mais quentes ou mais frios, oceanos, montanhas. Subo o Evereste, perco-me no Sahara, atravesso o Oceano Atlântico, pesco no Ârtico, faço um ritual com uma tribo africana, visito o Taj Mahal e no segundo seguinte corro pela Time Square Avenue, embrenho-me na Amazónia, estou no meio de Tóquio. Sou omnipresente. Desloco-me à velocidade da luz, mais rápida que a brisa do vento. Estou em todo o lado, em toda a parte, até abrir os olhos e ver que não sai do sítio. Foram apenas uns decibéis mais ou menos agudos que me transportaram através dos confins do mundo. A música é a melhor companheira que podemos ter. Não nos desilude, é-nos fiel, faz-nos sonhar, toda ela transborda vida. É uma essência, um elixir, um dom, um beijo, um acto carinhoso, uma bofetada, um olhar, um salto para o imaginário. Música é o mundo, sou toda eu, é toda a vida. O música é sem dúvida o sexo mais excitante.

O Porto é lindo à noite...



O sol cai, as pessoas saiem do trabalho, as primeiras estrelas aparecem, as luzes acendem-se e assim ganha vida uma cidade. Com o anoitecer tudo parece despertar. As verdades revelam-se, observam-se coisas estranhas, foram do comum, as pessoas misturam-se e cruzam-se a cda esquina com diversos tipos de gente, desde as mais antíquadas às mais modernas, das mais rebeldes às mais conservadoras, das mais simples às mais extravagantes... Tudo parece agir simultaneamente. É uma simbiose de gentes, uma mistura de raças, cores e feitios. O som das gaivotas desaparece, a brisa nocturna surge. Preparo-me para sair. Enquanto precorro as ruas desta cidade sinto-me envolvida por um misticismo e uma magia que me leva a sonhar pelos recantos mais longuínquos do mundo imaginário. As pedras da calçada parecem de repente falar; as paredes das casas contam-me suas histórias; as luzes tentam-me ofuscar com pensamentos de espíritos que vagueiam pela cidade; o olhar das pessoas revela-me quem elas são. Chegando à margem do rio as águas negras e espelhadas reflectem a minha própria imagem, distorcida pelos pensamentos que me assombram. O cheiro a mar, a cor do céu que parece nunca querer escurecer, tudo me envolve numa dança de sons, aromas e sentimentos que me embalam pela cidade fora. Estou aqui tal como poderia estar em outro lado qualquer, mas pelo menos tenho uma cidade multifacetada que me mostra que existem outras realidades e que me transporta para qualquer parte do mundo. É assim, envolvida pela história que cada rua me contam e pelo sentimento desta cidade que passo os meus dias e principalmente as minhas noites. Pois uma cidade só se revela à noite, que é quando desvendam os segredos e nos deixa penetrar no seu íntimo. Um ano depois de aqui chegar descobri onde quero ficar para sempre. Porque o Porto é arte, é história, é amor, é ódio, é saudade, é sentimento, é felicidade, é desgraça, é tudo o que quisermos que seja. Porto é vida!

Friday, October 5, 2007

Strange way of leaving home



Quando ficamos algum tempo sem ver certas coisas, acabamos por esquecê-las ou por as estranhar quando nos deparamos com elas novamente. No entanto há coisas que nunca se devem esquecer, até mesmo alguns erros, pois só assim podemos evitar repeti-los, mas pior que esquecer algo que nos é precioso à memória é estranhar algo que também nos foi precioso até há bem pouco tempo. As coisas que esquecemos verdadeiramente jamais nos recordamos delas, ou então lembramo-nos vagamente de como eram. Por outro lado, as coisas de que necessitamos regularmente não podem ser esquecidas, caso contrário causariam desconforto e/ou situações um pouco estranhas. Tal como eu, quando regressei a casa, após algum tempo de ausência tive a sensação de ter estado este tempo todo a viver noutra dimensão, a viver outra vida que não a minha. Regressar a casa foi como um regresso ao passado, nostálgico, deprimente e ao mesmo tempo reconfortante. Foi duro aperceber-me de que apesar de ter estado ausente as coisas continuaram a crescer sem mim, a vida continuou a seguir seu rumo, mas não sob o meu olhar, sob a minha vigília. Eu também cresci, mas longe de casa. Só quando estou aqui é que sei o quanto este sítio é importante para mim e quanto gosto dele. No entanto, não consigo viver aqui. Simplesmente não consigo, nem posso. Cada vez estranho mais as coisas num espaço de tempo mais curto. Tenho medo de um dia esquecer-me de vez deste sítio. Talvez seja o que irá acontecer, mas vou tentar mantê-lo vivo na memória e no meu coração enquanto puder e quando sentir que me estou a afastar demasiado, posso sempre voltar. Há um momento da nossa vida em que nãopodemos ficar mais presos ao lar. Temos simplesmente que abrir asas e voar. É triste já não sermos crias e termos de procurar o nosso prórpio rumo sem ajuda de ninguém. Apenas com um lápis, um papel e o nosso cérebro para pensar. A independência tem tanto de aspectos negativos como de aspectos positivos. O ideal era pudermos ser independentes com a ajuda dos nossos progenitóres, mas temos de enfrentar mundo sozinhos e só assim amadurecemos. Além disso, chega a um ponto em que os nossos pais precisam de descansar. Já nos tiveram tempo aue chegue, agora também eles vão ter de enfrentar o mundo, embora de maneiras diferentes. Há uma idade em que só sonhamos com o dia em que vamos fugir do ninho e depois quando estamos fora dele, só nos arrependemos de não o ter aproveitado mais e de não termos ficado mais tempo. Nunca estamos satisfeitos, mas como já disse outras vezes, ainda bem que é assim. É essa insatisfação permanente que vai dar muita força ao passarinho para mais tarde se tornar numa ave forte e robusta. As saudades do ninho? Essas ficam sempre...

Tuesday, August 28, 2007

É-me dificil escrever...


É-me difícil escrever. É difícil soltar o enredo de palavras que povoa a minha mente. Nenhum tema me interessa, ou mesmo que suscite alguma da minha curiosidade, simplesmente é-me difícil escrever. Não sei se será o ócio do Verão ou o passar dos anos que me vai tirando a inocência e a imaginação. Quando somos pequenos tudo é mais fácil. Vemos tesouros debaixo de nossas camas, castelos ao cimo de cada colina, aventura em cada saída de casa, um universo paralelo de brincadeiras e fantasias dentro da nossa cabeça. Mesmo sabendo que tal mundo mágico não existe mantemos sempre a esperança de que um dia mais tarde possa ser verdadeiro. Os anos passam e nada se concretiza. Não somos os heróis que outrora ansiávamos ser nem possuímos nenhum super – poder. Somos apenas mais um por entre tantos outros. Dizem-nos que somos únicos, mas não nos dizem o que realmente queríamos saber: que o mundo gira à nossa volta. Seria tudo tão fácil se pudéssemos controlar tudo com as nossas mãos. Contudo, seria tudo tão injusto se assim o fosse. A verdade é que não somos o centro do mundo, mas somos o centro de nós próprios e isso já deveria significar algo para nós, ou até mesmo satisfazer-nos. No entanto, o ser humano não se conforma e deseja sempre mais, mas ainda bem que é assim, pois no dia em que a conformidade se abater sobre nós não passamos de um corpo sem alma, sem propósito, sem objectivos e sonhos. Devemos querer sempre mais e não falo só a nível material, mas também a nível espiritual. Eu não me conformo com nada, nem mesmo em saber que o mundo não gira à minha volta, pois tenho a vaga impressão que tudo o que existe e me passa em frente dos olhos, não poderia existir sem que eu o observasse ou ouvisse. Talvez existam vários mundos e cada pessoa possua o seu próprio planeta virtual. Logo, por algo não existir para mim não significa que não exista para outros, pois esse algo pode existir perante a visão de outros. Tantas filosofias e teorias para nos explicarem que não somos o centro da Terra. Sinceramente, a mim o que me interessa é que eu sou o centro da minha própria vida e a Terra vou trocando uns olás com ela. Eu sou a heroína da minha própria vida, porque me vou salvando a mim própria com o poder da escrita. Quanto à falta de inspiração pelos vistos é um problema resolvido. Apesar de os anos passarem a imaginação e a inocência acabam sempre por permanecer. De outro modo morreria, pois o que seria da minha vida, do meu mundo sem o meu super – poder?

Sunday, August 26, 2007

Respirar debaixo de água



O Verão remete-nos para sol, praia, calor, mar, férias… porém a mim apenas me remete a uma coisa… água. Passar dias e noites a nadar, a flutuar, banhar-me nas águas do Douro ou do mar Mediterrâneo. Mesmo que seja passar uma tarde numa piscina vale a pena, mas a sensação de nadar no mar ou numa piscina não é a mesma. No mar ou no rio sentimo-nos parte da Natureza. Deixamo-nos levar pela maré. Muitas vezes nadamos no meio dos peixes. Estamos num contacto mais próximo com os seres marinhos, mas é quando estamos debaixo de água que tudo ganha uma nova dimensão. Sustemos a respiração, submergimos, sentimos o palpitar do coração mais lento e mais profundamente, ouvimos o barulho da água embater na margem, sentimo-nos como um peixe. No entanto, parece que falta algo para nos sentirmos um verdadeiro ser marinho… respirar debaixo de água. Eis o que falta para a existência de tantos amantes do mar se sentirem verdadeiramente realizados. Hoje em dia já é possível nadarmos debaixo de água sem nos preocuparmos com a asfixia, isto devido às botijas de oxigénio, mas nadar sem termos de nos preocupar com esses equipamentos de mergulho, isso sim seria o ideal. Contudo, não passa de um sonho, de uma ideia imaginária. Nem hoje nem amanhã o ser humano conseguirá respirar debaixo de água com o seu próprio sistema respiratório sem o auxílio de nenhum gadget super desenvolvido. Não somos seres marinhos e Poseidon há muito que deixou os mares para se resguardar no Olimpo, levando consigo as ninfas e as sereias e tudo o que se poderia assemelhar com um misto de ser humano com peixe, enfim, tudo o que nos pudesse dar uma esperança. Ficamos com a possibilidade de nadar debaixo de água por poucos segundos ou escassos minutos. Podemos sempre flutuar na água olhando fixamente para o sol e fechar os olhos, respirando os raios solares, esperando sermos tocados pelo dom de respirar debaixo de água.

Monday, July 30, 2007

Princípe desencantado



Recordo-me dos contos de princesas que me contavam quando era pequena. A Cinderela, a Branca de Neve, a Bela Adormecida e muitos outros. Histórias que ouvi durante toda a minha vida, embora umas mais verdadeiras do que outras. Todas as meninas pequenas imagiam-se na pele de uma dessas princesas, com vestidos deslumbrantes, com a vida perfeita adquirida após ultrapassarem uma série de problemas. Um final feliz ao lado do príncipe encantado. No entanto, por mais obstáculos que ultrapasse não chego ao final feliz. Os desastres sucedem-se, o principe não aparece e a Gata Burralheira não se transforma em princesa. Na realidade a vida é mais dura e os problemas a ultrapassar são mais dificeis, não se resumindo ao "como arranjar um vestido para o baile". O principe loiro, de olhos azuis, elegante, charmoso e inteligente não existe. Beijo o sapo esperando que ele se transforme em príncipe, mas o anfíbio assim o permanece e denuncia mais um príncipe desencantado. Contudo, dou por mim à espera que o verdadeiro príncipe apareça montado no seu cavalo branco e me leve para bem longe, para, deste modo, ter uma existência pacífica e supostamente feliz. Eu sei que já não existem príncipes assim e os contos de fadas não acontecem, mas não consigo parar de ansiar pelo meu conto de fadas. Apesar de ser uma mulher prática e independente não consigo deixar de pensar como seria se eu fosse uma dessas princesas. Seria eu deveras feliz? Talvez sim... talvez não... O que é certo é que o sou agora, isto numa vida em que o meu príncipe foi deixado para trás e na qual tenho consciência de que a minha carruagem para o mundo perfeito há muito que partiu. Gosto do mundo duro e puro como ele é. Sem toda esta esta imperfeição a vida não teria sentido. Além disso hoje em dia a mulher pode ser uma princesa sem ter um principe, basta sentir-se realizada. Nenhum homem ou mulher, nem mesmo um príncipe ou princesa detém o passe para a felicidade de outrém. A partir do momento em que temos capacidade de raciocínio e acção tudo depende de nós. Cada um é a chave da sua própria felicidade e covenhamos que se ficassemos à espera do príncipe ou da princesa a maioria das pessoas morreria infeliz e ainda à espera. Está ao nosso alcance sermos príncipes e princesas sem o par. Ainda não me sinto uma princesa, mas tenciono sê-lo um dia... quanto ao principe... no fundo sonharei sempre com ele, pelo menos enquanto viver dentro de mim um pedacinho da criança que outora fui e que sonhava acordada com o seu próprio país das maravilhas... com o meu próprio minúsculo e pequeno mundo...

Friday, June 29, 2007

Rua dos Maltratados


Esta semana conclui que apesar de já estar há algum tempo no Porto mal o conheço. Lugares por onde passo todos os dias e todas as noites encerram encantos e mistérios que desconheço. Vejo o velho com o blazer e bigode branco a falar com toda a gente e a mandar seu charme para as raparigas mais bonitas. Elogia um dos olhares mais sedutores que já viu, elogia outra rapariga sexy e com uma “vivacidade incrível, capaz de trazer vida e alegria a tudo”. O Sr. Gusto como apelidamos carinhosamente deixa-nos perplexas com a sua cultura geral e com as suas histórias de vida. Conta já doze filhos de quatro mulheres diferentes e muitas outras paixões. Vai declamando Camões, Bocage, Byron e deixando-nos envergonhadas por não conhecermos todos os poemas destes autores. A sua cultura é muito superior à nossa, então limitamo-nos a ouvi-lo atentamente, esperando aprender algo que não nos ensinam na escola… viver. Na primeira noite quando encontramos o Sr. Gusto na antiga rua dos maltratados ele estava com outro homem que tinha sido pára-quedista, segundo ele, mas ao qual não prestei muita atenção, pois estava um bocado alucinado, isto ao ponto de dizer que ia buscar os sete cães dele e depois aparecer apenas com dois. Outro homem boémio sentado no passeio tocava viola e improvisava uma canção. De vez em quando parava para acariciar a sua cadela, uma dálmata chamada Marta. Estes três velhos com mentes de jovens boémios juntaram-se ao nosso grupo de quatro pessoas e proporcionaram-nos uma noite fantástica. O bar fecha, mas nós continuamos cá fora a com mais pessoas desconhecidas com ar de metaleiros, mas que ouvem agora um amigo meu a tocar na viola do dono da Marta. Continuamos a falar uns com os outros entre um cigarro e outro, partilhamos histórias, experiências, passamos uma noite na rua a falar da vida, dos seus problemas e eu realizou como um idoso pode ser tão jovem e tão sábio ao mesmo tempo. Na noite seguinte voltamos a encontrar o Sr. Gusto, desta vez noutro café, mas acabamos a noite na rua dos maltratados, mais uma vez, a ouvir atentamente as histórias do Sr. Gusto que desistiu de Direito quando estava no terceiro ano, com vinte anos, por causa de uns olhos sedutores. Sempre com a sua pose de galã o velho que espera pelo ópio despede-se de nós desejando-nos tudo de bom e esperando voltar a ver-nos para passarmos mais noites agradáveis como aquelas. Tenho pena de ir embora e de ter descoberto esta rua agradável que de maltratada não tem nada, e estas pessoas interessantes, apenas agora. Esta sim é a verdadeira noite do Porto, em que se passa uma noite inteira sentados no meio da rua, a falar com amigos e com estranhos, se fazem novas amizades e se conhecem pessoas interessantes capazes de nos dar uma lição de vida. Vou ter saudades desta nova descoberta e espero que quando voltar a rua dos maltratados não tenha perdido o seu encanto.

Tuesday, June 5, 2007

Por entre cabelos brancos...



No meio de tanta gente que sai e entra, que se senta e levanta, ouve música, dorme, come, bebe ou simplesmente observa os outros passageiros; deparo-me a olhar para os cabelos brancos das pessoas que me rodeiam. A carruagem vai cheia, o barulho do motor do comboio é ensurdecedor. Observo os idosos que vão nos bancos, à minha frente, ao meu lado, e faço comparações entre eles. Uns com a cara mais marcada pelas rugas, outros com mais cabelos brancos, tísicos, obesos, altos, baixos, mas com uma coisa em comum: um olhar longínquo por vezes apercebidos por meio de conversas superficiais e das fotografias dos netos, mostradas aos companheiros de viagem. Em que pensarão eles? O que os reconfortará? Provavelmente só saberei quando chegar àquela idade, se chegar… São espíritos que deambulam e que apesar de tentarem compreender a nova sociedade não se integram e tentam sobreviver de recordações e pensamentos longínquos, sim, porque naquela idade já ninguém vive, apenas sobrevive. Quando chego a casa, após ter estado distante durante algum tempo, deparo-me com os cabelos brancos e com as rugas que povoam a cara da minha avó. Parecem aumentar de semana para semana, tal como o cansaço expresso na minha cara aumenta. Só assim me apercebo de como o tempo passa e o cabelo que outrora era preto tornou-se branco, e a menina que outrora era criança é agora mulher. Crescemos sem nos apercebermos, envelhecemos sem querermos. Vemos os nossos parentes a ficarem cada vez mais velhos e receamos perdê-los. Vemos o nosso retrato a ficar cada vez mais vincado e receamos não viver o suficiente. Temos medo da velhice porque tememos a morte. Receamos ficar senis, sem rumo, feios, mas sobretudo sozinhos. Ninguém quer acabar os últimos dias da sua vida sem alguém a seu lado que lhe segure na mão e que diga que estaremos sempre em sua memória e seu coração. A velhice é nostálgica porque recordamos consistentemente os piores dias e os melhores dias da nossa vida. Desejamos revivê-los a todos, até mesmo as piores. Lembramo-nos do nosso retrato quando éramos jovens e belos e julgávamos ter o mundo aos nossos pés. Choramos o que éramos, o que somos e o que seremos… uma partícula de pó, uma recordação que acabará por ser esquecida. No fundo o que queremos é ser recordados e deixar o nosso contributo no mundo. Queremos ser recordados jovens e saudáveis, com a imagem que sempre tivemos dentro da nossa cabeça. Por um espírito mais jovem que tenhamos o que fica na memória das pessoas é a nossa imagem. Eu tenho uma alma e um corpo de uma idade demasiado avançada. O cansaço do meu rosto e os traços que o marcam profundamente denunciam um espírito envelhecido, que já viveu demais ou que já pensou muito em viver demais. Tudo à minha volta envelhece, à mediada que o relógio avança mais do que devia avançar. Quero ser recordada jovem, mas quero viver mais. Aliás, quero viver demais, pois perante a ameaça da morte e da velhice o carpe diem ganha mais significado. Resta-me apenas mostrar o quanto gosto dos que me rodeiam e esperar quer os cabelos brancos não se emancipem rápido demais. Quanto a mim, no fundo serei eternamente jovem, e mesmo que não me recordem assim, o bater do meu coração será sempre rápido demais, ansiando por mais vida. O ar do planeta parecerá sempre insuficiente para tanta ânsia de respirar e absorver tenta essência, informação e tanta vida.

Saturday, May 19, 2007

Quando falta aquele abraço...



Quando estou sentada ao pé da janela, a olhar para o dia chuvoso, para o vendaval que acontece fora das portas de minha casa, aí sinto falta de algo. porque o frio penetra-me como uma lâmina mortal, porque nem as quatro paredes me protegem da solidão... pelo contrário aumentam-na. A chuva continua a cair, o vento sopra em meu ouvido e diz-me que estou sozinha. O céu escurece, meus olhos procuram uma resposta no meio dos lençois de água que povoam os campos, mas nada nem ninguém me responde. Simplesmente, há dias em que nos sentimos assim, temos não sabemos o quê, ouvimos uma voz como que de uma fada sussurar ao nosso ouvido, sentimos os olhos pesados e o corpo leve. Há dias em que sentimos falta daquele abraço... daqueles braços que nos protegem mais do que quatro paredes e do que mil tropas. Sentimos falta no útero que nos criou e alimentou durnate tanto tempo, do conforto da ignorância e da simplicidade de viver, de sermos fetos e nada mais. Sofremos e não sabemos porquê, estamos tristes porque nos outros disd estamos alegres. Temos necessidade de nos sentir melancólicos, de reviver os dramas do passado, de passar outra vez pela monotonia dos dias chuvosos, de sofrer, de viajar dentro de nossa mente e de nosso próprio sentimento. Quem diz que não gosta de sofrer mente, pois todos nós precisamos de sentirmo-nos mal de vez em quando, de não saber explicar o que temos, de ouvir Massive Attack até elouquecer-mos, de estar feridos, de chorar, berrar, gritar, de estar prestes a saltar para um abismo. Isto põe-nos os pé sobre terra e faz-nos ter vontade de viver só para ter mais dias como este e para ouvir mais música como esta. Não compensam o abraço, mas faz sempre bem ouvi-las...

Friday, April 27, 2007

Big Time Sensuality


A sensualidade é algo que não se vende, é algo que alguns aprendem, com que outros nascem, que alguns nunca virão a ter. É um olhar, um gesto, um andar, um passo de dança, um perfume, um respirar, é algo que nos envolve e nos enfeitiça de tal maneira que o resto deixa de ser importante e apenas o querer possuir aquele ser tão sensual faz sentido. São sobretudo hormónas, mas é também algo transcendente, um dejeso irreversível que nos consome, uma ideia que não nos sai da cabeça, um ser humano que nos deslumbra, que é (ou não) igual a nós. Seduzir é um jogo que pode divertir-nos durante imenso tempo ou pode tornar-se num jogo sem regras, perigoso. A sedução é uma das melhores coisas da vida. É o que dá mais prazer e vontade ao namoro, é o que nos leva a envolver com outra pessoa. Através da sedução tudo se gera, tudo se constrói, os desejos ganham forma e a vontade ganha mais empenho. Infelizmente é algo para ser jogado a dois e não é qualquer homem que desperta em mim a vontade de seduzir. Por enquanto fico sentada a ver os navios a passar e os outros a seduzirem.
Bjork - Big Time Sensuality

Face to Face



Todos dizem apreciar a frontalidade, mas a verdade dói e há palavras que não conseguimos ouvir, realidades que não conseguimos aceitar, pontos de vista que não entedemos. Ninguém gosta de ouvir críticas por mais verdadeiras que sejam e se alguém gostar é porque tem sérios problemas de auto-estima. Cada um de nós tem-se demasiado em conta a si próprio, todos somos um pouco egocêntricos, embora alguns exagerem, somos como somos porque gostamos de quem somos (ou porque não conseguimos mudar) e se alguém nos faz uma crítica negativa, mesmo dizendo "hum hum, tens razão...pois...hum hum, não, não, tens toda a razão", pensamos que é ele que está enganado e não nós, pois com certeza conhecê-mo-nos melhor a nós próprios do que os outros a nós. O problema é que nos esquecemos que os outros nos reprimem e critica consoante a visão que ele têm de nós e não nós de nós próprios. Não aceitamos criticas quando tememos que estas firam as nossas susceptibilidades e que nos obriguem a repensar de novo a nossa maneira de actuar e de pensar. Não aceitamos críticas porque somos arrogantes, convencidos, cobardes? Não... nós não aceitamos críticas porque somos mentirosos. Todos utilizam o descurso do "ai eu prefiro que me digam as coisas na cara do que falem mal de mim nas costas" e outro também igualmente conhecido "eu gosto de pessoas que sejam frontais". É tudo treta! Quando chega à hora de encarar a verdade e de ouvir o que os outros têm a dizer a nosso respeito ficamos xateados. As pessoas frontais que eram amiguinhas e que admiravam muito, depressa se transformam em amigos falsos, em intrometidos, em traidores, em tudo e mais alguma coisa, isto só porque tiveram a coragem de ser frontais, de dizer a verdade, e ai sim de ser mais amigos do que os amiguinhos do "es perfeito assim" e do "es a pessoa mais isto e mais aquilo do mundo". Sempre me disseram que uma qualidade que apreciavam bastante em mim era a frontalidade, mas no fim quem se deu sempre mal fui eu. Serei frontal de mais? A frontalidade nunca é de mais, embora num mundo como este só mesmo alguém com um grande estofo consegue ser frontal a 100%. Eu ja me dei muitas vezes mal por dizer o que acho, mas sinceramente a frontalidade é uma das qualidades que mais prezo em mim e nos outros e agora sem merdas eu gosto que me digam as coisas na cara! E ai sim começo a respeitar mais essas pessoas. Agora quem falar de mim pelas costas so merece o meu desprezo. Isto não é um ultimato mas sim um desafio, venham ter comigo e digam tudo o que pensam sobre mim, eu faço o mesmo, basta pedirem, mas sejam mais adultas e menos teens, enredos de novelas na minha vida não obrigada. Sou frontal e vou continuar a sê-lo! Quem gostar gostou, quem não gostar venha falar comigo e eu dou-lhe os parabéns. Podemos não gostar de ouvir críticas mas devemos aceitá-las ou pelo menos respeitar a opinião dos outros, isto se também queremos ver a nossa respeitada.

Thursday, April 19, 2007

Changing nothing



Mudar... será que alguém tem realmente a capacidade de mudar? Ninguém muda da noite para o dia. As mudanças requerem alterações e repercussões profundas na nossa vida e na do que nos rodeiam. Contudo, quando nascemos somos uma página em branco, um livro por escrever, uma vida por viver, um ser humano a ser moldado. A verdade é que quando nascemos ainda temos um carácter por definir, uma personalidade a ser criada. Temos o poder de sermos quem queremos ser. Por outro lado, não teremos este poder durante toda a vida? Os primeiros anos da nossa vida são cruciais para definir o nosso caracter. Ganhamos traços que nos acompanharão até ao fim da nossa vida. O problema é que há nascença não escolhemos quem queremos ser. Ninguém nos mostra um catálogo de personalidades. Do nosso inconsciente somado com a educação que nos conferem irão resultar o Eu actual. Não temos culpa da educação que temos e nem do nosso inconsciente, pois herdamos os traços dos nossos progenitores e aprendemos com eles (ou com alguém próximo de nós). Somos o que somos porque assim nos criaram. Mas se não estivermos satisfeitos com a maneira como somos? Será que conseguimos verdadeiramente mudar? O ser humano não é nenhum animal com capacidade de mutação instantânea. O processo de mutação demora semanas, meses ou anos, pode sté nunca acontecer. Muitas etapas terão de ser superadas, muitas lutas travadas, um dia vivido de cada vez, tentando iniciar um novo ser humano, no fundo tentando renascer. É isto mesmo que queremos: Renascer, ter a capacidade de mudar, de ser alguém diferente, de desenvolver um sentido camaleónico. Surgir das entranhas da vida e respirar de novo, poder olhar de frente para o espelho e gostar de nós... ser diferente, ser melhor, ser como queremos e como a sociedade o deseja. Para isso, não vale a pena mudar. Além do mais quando mudamos o envolcro pode tornar-se diferente, mas o conteúdo permanece. No fundo ninguém consegue mudar, e os que mudam tornam-se infelizes. Somos como somos e temos de aceitá-lo. Eu aceito-me e gosto de mim. Por mais represálias que receba, por mais incompreendida que seja, não vou mudar, porque sou assim, sempre fui e sempre serei. Já fiz mudanças superficiais, isso sim, pois também evoluo, mas no fundo serei sempre aquela criança sonhadora que vive no seu próprio mundo pequeno e minúsculo...

Sunday, April 15, 2007

Lost and Deception



Há coisas que nos passam ao lado. Por vezes estamos tão fixados numa coisa que tudo o resto deixa de ter importância. Ficamos colados, dependentes, absorvidos por essa mesma coisa. Tudo o resto é apenas éter, nada que seja suficientemente especial para despertar a nossa atenção. Perseguimos aquele objectivo, ansiamos por ele, mas muitas vezes quando o obtemos vemos que não era bem o que esperávamos e então chega a desilusão, o dissabor, a sensação de que todo aquele tempo perdido em busca daquilo que ansiávamos foi apenas uma perda de tempo. Isto acontece-nos milhares de vezes algumas até sem nos apercebermos. Juramos que da próxima vez será diferente, estaremos mais atentos ao que nos rodeia, não nos fixaremos apenas naquele ponto, mas a verdade é que acontece sempre o mesmo. Não conseguimos evitar a desilusão e o sofrimento. A perda faz parte do nosso processo de aprendizagem, embora se repercute por toda a vida. Tentamos lidar com a desilusão das mais variadas formas, quer seja a encara-la como o fim da nossa vida, quer seja ignorando-a, esquecendo-a. O certo é que não conseguimos deixar de nos apegar às coisas ou às pessoas e esquecer que fora da nossa pseudo – obsessão existe um mundo de possibilidades infinitas que nos podem fazer igualmente felizes. “Depois da tempestade vem a bonança”, mas nem sempre é assim. Há dores que não passam e coisas ou pessoas insubstituíveis. Há perdas e desilusões que nos acompanham no dia a dia. Existem dores que nenhuma catarsis consegue salvar. A dor permanece, mas a nossa vontade de melhorar também. Por maior que seja o ferimento acabamos sempre por nos levantar e seguir em frente, apesar de sabermos que iremos cair outra vez. Sem esta capacidade de regeneração emocional não seríamos capazes de viver. Somos seres mais fortes do que aquilo que julgamos, não fisicamente, mas emocionalmente, intelectualmente, psicologicamente. Temos o dom do pensamento, só isto chega para nos dar força para continuarmos a viver. Cada um de nós encerra em sua mente um universo altamente complexo (uns nem tanto), o nosso refúgio, o nosso mestre, o ego. Encontrando-nos a nós próprios conseguimos ultrapassar qualquer desilusão ou perda, não nos esquecemos dela, mas ganhamos forças para continuar. A desilusão e a perda são emoções que nos ajudam a formar o nosso carácter e embora não devamos ver o mundo só de preto, também não o devemos ver apenas de branco. O mundo é uma paleta de cores, cabe-nos a cada um de nós escolher as cores com que deseja pintá-lo… o meu é um arco-íris!

Saturday, April 14, 2007

Sonho ou Realidade?



Nasci no mundo dos sonhos. Nele fui concebida, nele cresci, até que um dia acordei… Doeu, chorei, fiquei ferida e ainda estou. Foi como um grito que despertou todos os meus sentidos que afinal são muito mais que cinco. A minha epiderme vibrou, minha retina deslocou-se, fiquei mais desperta do que nunca. No início tive medo… mas que mundo era aquele? Que coisas estava eu observando? Onde estou? Quem sou? Que faço? Mil e uma perguntas sem resposta, um inquérito ao meu ego, um vazio ansioso por ser preenchido. Tinha renascido… despertado para a realidade, acordado do mundo dos sonhos, senti-me como uma criança expelida do ventre de sua mãe, assustada, curiosa, nova, com dificuldade em respirar. Depressa me entreguei à realidade e consumi o máximo de informação e de repostas às mais variadas questões existenciais. Queria viver, conhecer, saber, respirar, ser uma profetisa da realidade. Deixei de sonhar… minhas emaranhadas teias de ilusões ficaram de lado, minhas fantasias, meus desejos, meus contos de fadas, aqueles lugares longínquos, aquelas pessoas estranhas, aqueles pesadelos que me perseguiam e aqueles sonhos que me resgatavam. Fiquei dura e fria, uma observadora atenta da realidade, uma acérrima defensora da verdade, mas após tantas odes a ela dedicada e de tanto tempo acordada percebo porque esporadicamente era avassalada por uma onda de nostalgia que me lembrava meus sonhos. Queria voltar a adormecer porque aí era muito mais feliz, mas a ânsia e o poder da realidade consumiam-me de tal forma que queria manter acordada. Sempre pensei que a viver em busca da verdade era o melhor objectivo para viver. Mas o que eu queria era liberdade e nada mais. Será que a verdade e a realidade me podem dar a liberdade total, sem barreiras? E o mundo dos sonhos? Através dele fui livre das mais variadas formas e maneiras possíveis mas nunca foi real, foi apenas um sonho. Não me decido entre a realidade crua, dura, mas verdadeira; e os sonhos libertadores, que me deixam respirar, voar, ser qualquer coisa ou pessoa. A minha curiosidade impede-me de desistir da busca da realidade, por outro lado as minhas raízes impedem-me de esquecer o onírico, algo que só a própria realidade limita. Não sei em qual mundo viver… um dia decido e mudo-me para o mundo dos elfos ou atinjo o nirvana quando encontrar aquilo que procuro no mundo real.
“A realidade é o pesadelo do mundo dos sonhos”, esta é para ti Rutinha, porque te admiro por viveres no mundo dos sonhos.

Just Pleasure



Tudo começa com uma batida, um passo de dança, um simples olhar através do fumo, um movimento mais sensual, um sussurrar ao ouvido, uma mão passando pelos cabelos, um respirar de perfume, um aconchegar mútuo, uma sintonia perfeita entre os corpos, o existir por si só, independente de tudo, o ser livre e sentir-se único no meio da multidão. Deixamos de ver quem nos rodeia, apenas nós existimos, aqueles dois corpos, perfeitamente encaixados no seio no universo, mas que por momentos são os donos da noite, do mundo, criam o seu próprio universo paralelo. Não são eles que estão fora de órbita, mas os outros todos, pois para eles, naquele momento, tudo faz mais sentido e sentem-se muito mais completos. É óbvio que são eles que estão certos e os outros todos errados, mas num mundo onde não certo nem errado, eles estão pelo menos melhor. Não pensam em nada, livres de preocupações, senhores de si, apenas agem, deixam-se levar pela emoção, pelo prazer, pelo êxtase, pela loucura, pelo palpitar constante e frenético do coração, pelas borboletas que batem as asas dentro da barriga deles. Naquele momento eles são muito melhores que todos, pois mesmo que não amem, gozam, vivem, aproveitam, sentem algo mais transcendente que uma oração, algo que consegue conciliar o prazer corporal e a elevação espiritual. Sejam bons ou maus, mais ou menos, são sempre únicos. São os segundos mais excitantes da vida de qualquer pessoa, são um misto de euforia, dor e prazer. É a subida ao décimo nono céu. É algo que de outra forma não se sentiria, é pelo que vale a pena viver. Mesmo que estejamos a morrer ou que o pior nos tenha acontecido, nesses segundos esquecemos tudo. É por isso que o que começa numa discoteca ou num café e acaba numa dança de corpos é tão bom, porque apenas vivemos para e pelo prazer, nada nos atormenta, tudo é novo, bom, libertador, a batida, o passo, a dança, o olhar, o movimento, o sussurrar, as mãos, os cabelos, o respirar, o perfume, o aconchegar, a sintonia, o corpos, a liberdade… tudo ganha sentido, tudo se move, tudo me nos faz feliz, tudo é… prazer!

Wednesday, March 28, 2007

Tudo o que tem um início tem um fim...




Nada dura para sempre... Tudo é efémero, momentâneo, finito, corruptível... Uma frase tem de ter um ponto final, uma inspiração acaba com a expiração, o nascimento perde o sentido após a morte, uma amizade, um amor, uma emoção acabam por desaparecer ou simplesmente por se quebrarem. Tudo é finito, tudo pertence a um ciclo de vivências que se repete a cada nanosegundo, isto claro sem nos apercebermos. Talvez a única coisa infinita seja esse ciclo, pois acontece constantemente desde o ínicio da existência. No entanto, esse ciclo renova-se, ou seja, deixa de ser o mesmo, logo podemos considerar que cada ciclo em si é finito. O que surge posteriormente é um novo ciclo, diferente. A própria diferença justifica a finitude das coisas. Uma vida acaba, surge uma nova mas não é a mesma. Uma amizade acaba, faz-se outra mas não é a mesma. É impossível reviver o passado, por isso é que há medida que o tempo passa as coisas mudam, deparamo-nos com novas situações, ao mesmo tempo que umas acabam outras começam. Estamos em constante mutação, acompanhamos a evolução temporal, tentamos ganhar tempo ao tempo, tal como a terra tenta ganhar terreno ao mar, mas a sucessão dos acontecimentos é inalterável. Podemos manipular o tempo, mas não podemos tornar algo infinito. Dizem que as coisas finitas são as que dão mais prazer, mas o próprio prazer é efémero. Estamos assim destinados a um ciclo infinito de finitudes. Perdas, ganhos, desilusões, ilusões, descobertas, segredos, novidades, mitos, lágrimas, sorrisos, infelicidades, felicidades, ódio, amor, tudo, nada...temos de viver com eles. Perante uma perda, há que substituí-la e seguir em frente, mas nada de ilusões, porque tudo o que tem um início tem um fim, nem que seja a morte. O que importa é que aconteceu...

Raízes não esquecidas


Sinto falta das minhas raízes…
Do local onde a semente germinou,
Da floresta colorida por matizes,
Mas a árvore secou…
Secou tal como minha alma
Se deturpou entre a poluição citadina;
Meu olhar murchou
E meu crescimento estagnou.
Perdi minha vertente feminina.
Sou tal e qual uma amputação
Mal conseguida.
No papel sou uma dissertação
Sofrida…
Sinto falta do meu lar,
Daquele que nunca tive,
Sou nómada de espírito,
Não consigo parar nem pensar,
Pois de imediato sou assolada
Por uma onda de saudade,
Por um aperto doloroso
Provocado pelo vazio de meu ser,
Por não saber o que é um abraço caloroso,
Fotografias não são almas
São apenas imagens que dói de ver.
Não posso ficar parada
Senão choro, berro e grito,
Perco toda a calma
Penso em tudo o que vivi e que não sofri,
Pois de certo não serei um protótipo da infelicidade;
Contudo sinto-me só, uma podridão de sentimentos,
Apenas uma sobrevivente da promiscuidade
Da industrializada e tecnológica civilização.
Sou apenas uma sombra que persegue não a si própria,
Mas àqueles que a criaram.
Perseguindo uma lápide e um ser distante,
Assim passo eu os momentos
Mais importantes da minha suposta vivência
Que não é mais do que uma ilusão
Querendo parecer uma ideia sóbria,
Quando na verdade é uma irrealidade desconcertante,
Pois eu fiquei e eles partiram…
Que vivência posso ter eu, assim, amargurada?
Nenhuma…
Ou talvez alguma,
Pois enquanto o ser respirar
Uma réstia de esperança existirá.
Por aqui não vou ficar!
Não importa o que dizem, pois para mim
O que é túmulo foi vida e teve experiência;
O que está longe existe
Mediante oceanos que nos separam.
Estou sarada…
Não foi preciso qualquer ciência
Para saber que ainda persiste
O pouco do grande sentimento que recebi.
Meus tormentos não acabaram,
A dor permanecerá,
Mas não voltarei a viver o que já vivi
E não acabarei assim…
Por ter saudades do meu lar.

Saturday, March 24, 2007

Timidez... às vezes...



Não tenho nada contra a timidez, pelo contrário até a admiro, pois como é algo que aparentemente não sou nem conseguirei ser, admiro quem possui a capacidade de o ser. No entanto existem vários tipos de timidez, desde a timidez mais exagerada que se pode confundir com problemas de (não) socialização, embora por vezes seja correcta essa associação; até a timidez mais reduzida que cada um de nós possui. Todos somos um pouco tímidos, há certas coisas que não gostamos de mostrar. Não conheço ninguém que seja totalmente open mind e desinibido, é impossível, há sempre algo que queremos esconder ou que preferimos que seja desconhecido. Eu própria sou tímida em relação a algumas coisas (espaço para risos). Mas é verdade, por de trás desta falta de vergonha e desta extroversão toda há coisas só minhas e que gosto que assim continuem. Todos precisamos de um pouco de privacidade, eu não sou diferente, também gosto de ter os meus segredos, embora com este blog revele uma faceta que até aqui tentava manter escondida do público em geral, mas mesmo assim há certos pensamentos que não revelamos a ninguém. A maioria pensa que revelo todos os pensamentos, mas não é verdade, muitas das coisas que digo nem sequer as penso, mas gosto de chocar as pessoas e não vejo nenhum problema em falar em sexo. É por ele que estamos aqui e é uma das melhores coisas da vida. Porquê não falar abertamente sobre ele? A única diferença entre mim e a maioria das pessoas é que eu digo a maior parte das coisas que penso e os outros só pensam. Não tenho nada contra a timidez, aliás até há alguns tipos de timidez que gosto bastante, porque dão sempre aquele ar de mistério; agora não percebo é porque algumas pessoas que de timidez e bom senso têm pouco se fazem de envergonhadas e repreendem a atitude de quem não o é. Não peço compreensão, pois gosto de viver num mundo imperfeito e de me sentir incompreendida, aliás é essa a minha inspiração. Apenas quero que as pessoas se libertem de preconceitos e abram os olhos para a realidade. Isto não serve só para as pessoas tímidas, pois conheço pessoas tímidas que são têm mentes muito abertas tal como conheço o contrário. Mas que raio digo eu? Afinal nós somos todos tímidos e excentricidade não é sinónimo de liberalismo, tal como timidez não é sinónimo de conservadorismo. Portanto gosto de pessoas tímidas e de pessoas excêntricas, gosto das pessoas não por aquilo que elas aparentam ser mas por aquilo que pensam e são na realidade.

Saturday, March 17, 2007

Tirania do Tempo

Não tenho tempo para escrever
Nem sequer para pensar,
Os condicionalismos temporais
Não me deixam expandir
O meu ego social,
Apenas me impedem de viver,
Desviam-me do que é crucial.
Sinto falta de o meu espírito elevar
Para além dos condicionalismos humanos,
Experiências surreais,
Ouvir uma melodia eloquente,
Chorar, gritar, gemer, sorrir,
Uma noite envolta em lençóis calorosos,
Sussurros profundos que me deixam sem falar…
Mas não há tempo…
A sociedade e seu ritmo consequente
Impõem diariamente uma grande restrição,
Movimentos, mentalidades, respiração, pulsação,
Tudo coordenado num “timing” perfeito.
O próprio tempo rege o tempo e assim sucessivamente,
Cada minuto é agressivamente planeado,
Cada hora, cada dia, cada momento,
Tudo perfeitamente calendarizado,
Numa sociedade tão democrática
Além de ditadores de nós próprios, somos comandados pela cronologia.
Escravos do Big Ben e do super ego
Ignoram o que qualquer um vê, até mesmo um cego
À teórica liberdade é difícil pô-la em prática
Depois de experiências e momentos tão gloriosos
O mundo vazio, desfeito.
À medida que adiamos o inevitável passam anos,
Ninguém se apercebe da tirania
Temporal que impusemos neste mundo.
Não há espaço para respirar
E não é preciso nenhuma tese de Sociologia
Para comprová-lo, pois todos nos sentimos amarrados
Como num oceano bem fundo,
Prestes a sufocar,
Sentimos a vida a escapar-nos
Assim como a água a entrar nos pulmões.
Somos apenas bonecos cronometrados,
Como se alguém quisesse testar-nos.
Somos o que somos porque fazemos o que fazemos
E queremos saber até onde conseguimos ir.
Somos mais ingénuos do que o julgamos ser.
Seremos nós capazes de fazer o tempo sucumbir,
De dar lugar às nossas emoções?
Não sei se somos nem se o seremos,
E provavelmente não estarei cá para ver.
Apenas sei que sou eu que faço o meu próprio tempo
Ninguém me agenda, ninguém me regula.
Eu sou mestre, liberdade e censura.
Sou o próprio Carpe Diem, a ânsia de respirar,
A dor causada pela incapacidade
De absorver tudo o que o mundo contém.
O tempo não condiciona a minha criatividade
Porque a capacidade de o dominar, sou eu quem a detém.
Os pêndulos não me incomodam,
Não me impedem de criar,
Meus poemas são minhas ideias que os moldam.
Eu aproveito o tempo!
E vocês, quando começam a sentir o momento?

I miss home, but where is my home?



Cada vez que volto a casa sinto-me invadida por uma estranha onda de melancolia. Nas três horas de viagem perco-me nas paisagens verdejantes das encostas do Douro e quando dou por mim estou fora do meu próprio alcance, perdida em sonhos, correndo em vales e montes verdejantes, andando sobre o rio tal como um profeta, envolta em melodias elficas e em contos sobre tempos longinquos. No fundo, sinto falta do ar puro, sinto falta de mim. Necessito da melancolia que me avassalava desde meu tempo de criança. Nasci no mundo dos sonhos, lá cresci e sempre vivi, até ser dsperta por uma rotina frenética que não e despensa nem mesmo um segundo, para sonhar e voltar ao meu mundo. Sou como uma fada que perdeu as asas e não sabe andar, como poderei voltar para casa se não sei voar? Perco-me nestes pensamentos de ilusão, durmo acordada e sonho com o lar que ainda não descobri. Sinto-me bem nas casas que tenho mas não me sinto a mim... não sei que quero nem sei quem sou... este estado de sonho e ilusão permanente deixa-me perdida entre tantos pensamentos. As paisagens verdes prologam-se dentro de mim, cobrem a minha alma e o meu ser sem fim... De repente acordo do sonho, chego a casa, àquele lugar coberto de ar puro, aconchegante, protegido de tudo o que é horrível, mas mesmo assim continuo a sonhar com aquelas sensações indescritíveis que toda a viagem desperta em mim. Acho que aquilo que tenho é vontade de viajar, é vontade de conhecer, de estar sozinha, de ser eu mesma. De qualquer das maneiras eu gosto de sonhar, e admito que gosto de ser consumida pela rotina frenética e poluente das cidades. A informação, o consumo, a monumentalidade dos edifícios, a mistura de nacionalidades, a excessiva oferta de actividade, as ruas cheias de história, os cheiros característicos, os estilos futuristas, o rio tão perto de casa, as saídas, a noite iluminada, o deserto das ruas no domingo à noite... enfim, o Porto. Estou assim dividida, tal como Cesário Verde, entre o Campo e a Cidade, mas qual dos dois escolher? Tecnologia ou simplicidade? Industrialização ou ar puro? Stress ou calmia? Escolho os dois, cada um a seu tempo...

Pessoas Falsas...



Detesto pessoas falsas! São a escumalha mais reles que se encontra na sociedade (parece que vivemos numa sociedade bastante reles), e porquê? Bem, porque são tudo aquilo que eu despreso: são cobardes, são futeis, são mentirosos, são pessoas que se importam com as aparências e com o status quo, são seres mesquinhos e desprezivéis... são tudo aquilo que eu não quero ser. O que eu não percebo nestas pessoas é porque não têm coragem de admitir aquilo que são e de defender aquilo que verdadeiramente pensam. Quando eu não gosto de alguém eu evito falar com essa pessoa e não ando sempre com sorrisinhos cínicos e com uma pose de "somos amiguinhos(as), gosto muito de ti". É muito mais admirável alguém que admite aquilo que sente e que não receia ser incompreendido pelo seu grupo ou até mesmo pela sociedade, isto quando as escolhas e/ou pensamentos têm uma difusão maior. Eu admiro as pessoas que admitem que não gostam de mim (perante mim mesma e não perante terceiros, iss para mim é igual a zero e não deixa de mostrar cobardia), pois tiveram a coragem de admiti-lo e de sofrer as consequências, não que eu fosse bater-lhes (às vezes bem que me apetecia), pois respeito a opinião e a maneira de ser/estar dos outros, muitas vezes como nunca me respeitaram; mas cada caso é um caso e não podemos dexar que as nossas vivências passadas afectem as nossas futuras. Estou aqui com um discrso à vítima e à Madre Teresa de Calcutá, mas isso é porque acordei bem disposta e com a minha auto-estima acima do níveis normais, pois se fosse noutro dia estaria a fazer um ultimato às pessoas falsas e a falar em esfaquear alguém...

Para concluir gostava que uma vez na vida as pessoas falsas se revelassem ao mundo para mostrar a sua verdadeira natureza; teriamos muitas surpresas e provavelmente muitas mais Guerras Mundiais. Se serem falsos vos ajuda a serem mais felizes, têm o meu apoio, desde que não se colem a mim e não me intormetam nas suas tramas pessoais. Eu sou como sou e não vou mudar. Sou feliz assim, para alegria de muitos e para o azar de muitos mais. Seguir aquilo que defendemos e sermos como queremos NÃO É SER BAIXO NÍVEL, descer baixo é mentirmos a nós próprios e aos outros todos os dias da nossa vida, apenas para manter a pose e a popularidade. "A verdade vem sempre ao de cima", contudo, boa sorte para quem usa uma máscara...

Friday, March 9, 2007

The Beginning...



Tudo começa aqui... o início de um pseudo-diário, de um confidente, de uma maneira de me fazer ouvir... enfim, conhecerem-me melhor do que aquilo que eu desejava. Podem pensar que gosto de dar nas vistas (e gosto mesmo) mas o certo é que continuo uma caixinha de surpresas que apenas se abre para os mais privilegiados que juram solenemente não revelar os mistérios que encerro. Ok, isto já parece um texto do Senhor dos Anéis, só falta dizer que a salaçao do mundo está nas minhas mãos e que esta pode ser ameaçada por várias craturas nojentas e despreziveis, como o Gollum e os Ocres. Mas não, lamento informar mas não sou o Frodo. Apenas sou uma pessoa comum que expõem a parte mais divertida e descontraida de si e esconde a mais sonhadora, a mais emotiva, receando revelar as suas fraquezas. Neste blog vou escrever textos que goste e com me identifique, embora lamente informar que não vou escrever sobre a minha vida privada. Ohhhhh!!!! Para me conhecer verdadeiramente é preciso bem mais que ler o meu blog... isto como se alguem me quisesse conhecer verdadeiramente, mas deixem-me sonhar. Entre tantos devaneios não escrevo nada de interessante, redijo apenas um texto abstracto... Deve ser da fome (está na hora de jantar). Me voy... see you soon bloggers (or maybe not)!