Wednesday, September 24, 2008

Super- Heróis



Quando era pequenina não sonhava ser grande… Queria continuar pequena, mas com a liberdade dos adultos. Queria poder decidir, fazer, desfazer e dizer o que me apetecesse. Queria ser uma super mulher, uma heroína com poderes mágicos e um coração do tamanho do mundo. Sonhava que um dia alguém me revelaria que não era quem pensava ser e que tinha um poder incrível que salvaria o mundo de todos os males. Sonhava em vestir meu uniforme e me transformar numa guerreira que partia em luta pela justiça e pelo bem dos fracos e oprimidos. Os anos passaram e não surgiu nenhum super poder. O sonho foi-se desfazendo à medida que me via como uma pessoa mais normal. Agora olho para mim e apercebo-me que sonho em ser a criança que sonhava em ser super poderosa, mas não queria outra coisa além de estar protegida de todo o mundo através dos braços que a amava. Os anos passam e dei-me conta das minhas fraquezas e dos meus defeitos. Conheci-me cada vez melhor e agora percebo porque não fui uma super-mulher, ou aliás uma super-criança. Não teria tido estofo, e continuo sem o ter. Sou humana como toda a gente: choro, rio, grito, tenho medo, iludo-me e depois desiludo-me, adoeço, critico, desdenho, odeio, amo, cuido, ajudo... Tenho virtudes e tenho defeitos. Utilizo-os consoante o outro. Posso amar demais e odiar de morte. Posso ser destemida e avançar sempre em frente com a minha vida, mas antes de o fazer também tenho medo. Não sou de ferro, nem vou viver para sempre. Penso demais na vida e nas coisas para além dela, vejo as rugas a ficarem cada vez mais definidas e a paciência cada vez mais curta. Toda a gente tem de crescer, até mesmo os super-heróis crescem. A diferença é que eles não ficam doentes, não fraquejam, não param de lutar. Nós, meros humanos, coitadinhos… cada vez aguentamos menos à medida que crescemos. O problema é viver demasiado em tão pouco tempo. Chegamos a um ponto em que precisamos de um tempo para recarregar baterias para nos levantarmos, sacudir a poeira, tratar das feridas e continuar nossa caminhada. Eu posso já ter caído muitas vezes e posso vir a cair mais, mas levanto-me sempre e não deixo de viver por causa disso. Não super-heroína, sou muito fraca para isso. Mas as outras pessoas também não são super-heróis, eu pelo menos não conheço nenhum. Todos temos fraquezas, mas o que interessa é nelas encontrarmos força. Se erramos, pelo menos já ficamos a conhecer algo que não devemos fazer. Se ficamos doentes pelo menos sabemos que para a próxima devemos ter mais cuidado com a nossa saúde. Se falhamos, pelo menos podemos prometer que para a próxima nos esforçaremos mais. Podem nos acontecer muitas coisas más, mas através ficamos a conhecer outras coisas boas e aprendemos a dar valor às coisas pequenas que a vida tem. É observando o mal que aprendemos a praticar o bem, quer para os outros quer para nós mesmos. Quando o mal nos atinge não podemos ficar deitados muito tempo. Há parar, pensar, chorar, gritar, sarar e recuperar para ganharmos forças e nos levantarmos. Eu já estou prontíssima para continuar a caminhada. Aliás já a retomei há algum tempo. E se cair outra vez? Levanto-me novamente e sigo em frente. Nisso temos de ser fortes e é nestas alturas que se vê que em cada um de nós há um bocadinho de super-herói.